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quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Existe "TPM"?


Síndrome pré-menstrual: mito ou realidade?

Ela se comporta de forma inconstante e imprevisível. Num momento é cordata e no outro já quer partir para a discussão. Suas palavras revelam sentimentos de desesperança. Você tenta consolá-la, mas ela reage de forma exagerada ao que você diz e faz. Uma coisinha de nada pode tomar proporções enormes e detonar uma briga. Passados alguns dias, talvez uma semana, esta “outra” mulher de repente desaparece, e ela volta ao normal . . . por um tempo.

DEVE-SE admitir que nem todas as mulheres passam por tais alterações drásticas de humor. Mas, no período pré-menstrual, algumas mulheres talvez se identifiquem com essa versão feminina de “O Médico e o Monstro”. O que causa essas alterações de humor? Será que as mudanças que ocorrem no ciclo menstrual são realmente responsáveis por esse comportamento?

O que é SPM?

Segundo o American Journal of Psychiatry, as mulheres que passam por “ocorrências cíclicas de sintomas de suficiente gravidade a ponto de interferir em alguns aspectos da sua vida”, e que surgem regularmente no período pré-menstrual, podem estar sofrendo de SPM (síndrome pré-menstrual). Embora não haja testes de laboratório que possam diagnosticar a SPM, a mulher com esse problema sempre tem uma fase em que não apresenta esses sintomas, durante uma ou duas semanas em cada ciclo. Segundo esta definição, os médicos calculam que apenas 10% das mulheres sofrem de SPM.

Outros clínicos têm um conceito diferente sobre a SPM. Eles argumentam que uma porcentagem bem maior de mulheres, entre 40% e 90%, sofrem de SPM. Segundo a definição deles, o termo inclui queixas como aumento de peso, fadiga, dores nas articulações, cólicas abdominais, enxaquecas, irritabilidade, hipersensibilidade nas mamas, crises de choro, compulsão para comer e oscilações de humor. Há mais de 150 sintomas associados à SPM. Mesmo as que não mais menstruam podem apresentar um ou vários desses sintomas, mas em geral a mulher apresenta a SPM na casa dos 30. Para a maioria, os sintomas da SPM são difíceis, mas controláveis. Neste artigo, voltaremos a nossa atenção para este tipo mais brando de SPM.

Nancy Reame, pesquisadora da Universidade de Michigan, disse que a SPM é considerada um “problema de saúde genérico” nos Estados Unidos, mas em outros países o tipo e a gravidade dos sintomas variam muito. “Em alguns países, as mulheres se queixam muito mais de sintomas físicos significativos, ao passo que em outras culturas, elas se queixam mais de sintomas emocionais”, afirmou. Reame, que fez pesquisas na China, citou o exemplo das chinesas. “Na cultura chinesa não é aceitável a pessoa ter sintomas emocionais.” Assim, as mulheres focalizam as cólicas quando indagadas sobre problemas menstruais.

Quando foi diagnosticada a SPM

O Dr. Robert T. Frank, de Nova York, foi o primeiro a abordar a SPM. Em 1931, em seu ensaio “Os fatores hormonais da tensão pré-menstrual”, ele falou de mulheres que sofriam de fadiga, falta de concentração e tensão nervosa na fase pré-menstrual.
Vinte e dois anos mais tarde, os médicos ingleses Katharina Dalton e Raymond Greene publicaram um estudo numa revista médica em que cunharam o termo “síndrome pré-menstrual”. A Dra. Dalton referiu-se à SPM como “a doença mais comum e provavelmente a mais antiga, do mundo”. As suas descobertas sobre o efeito que a SPM pode ter no comportamento da mulher tornaram-se conhecidas ao público em 1980. Ela e outros médicos foram convocados para diagnosticar duas mulheres britânicas acusadas de homicídio. Eles teorizaram que o comportamento da mulher pode ser influenciado por flutuações hormonais durante o ciclo menstrual. Com base no diagnóstico deles sobre a SPM, as penas por homicídio em ambos os casos foram reduzidas. Numa delas, a pena por homicídio foi diminuída, com base na SPM como “fator atenuante”.

Comportamentos destrutivos como esses parecem ser casos isolados. As causas de tal comportamento e os sintomas de desconforto mais brandos que a maioria das mulheres têm, por volta da época da menstruação, continuam a ser debatidos nas páginas das revistas médicas e outras.

Será que as oscilações cíclicas no organismo da mulher realmente são responsáveis por tal comportamento? Ou será que essa história de descontrole hormonal e físico da mulher é apenas um mito? Existem diferenças de opinião sobre que efeito, se é que elas exercem algum efeito, as oscilações hormonais têm no comportamento da mulher. Muitos pesquisadores e médicos concordam que uma melhor compreensão da interação do cérebro com os hormônios ovarianos durante o ciclo menstrual é a chave para se entender por que algumas mulheres sofrem da SPM.

O ciclo menstrual

Cerca de uma vez a cada quatro semanas, o corpo da mulher entra num ciclo altamente complexo de oscilações hormonais. Tida por muitas como “maldição”, a palavra “menstruação” vem do latim mensis, que significa “mês”.

Para iniciar o ciclo, o hipotálamo, situado no cérebro, estimula a glândula pituitária a secretar o HFE (hormônio folículo-estimulante). O HFE viaja pelo sangue aos ovários e provoca a produção do estrogênio. Com o aumento do estrogênio, a pituitária reage enviando o HL (hormônio luteinizante), que por sua vez diminui a secreção do HFE. Um óvulo amadurece, e se desloca para o útero. Após a liberação do óvulo, a progesterona é secretada. Se o óvulo não é fertilizado, os níveis de progesterona e de estrogênio caem rapidamente.

Sem os hormônios para sustentá-lo, o revestimento do útero começa a se dissolver, e sangue, fluido e partes de tecidos são eliminados pela vagina. Esse processo pode levar de três a sete dias, quando termina o ciclo menstrual. Ao terminar um ciclo, o cérebro novamente ordena a liberação de hormônios, assinalando o começo de um novo ciclo.

Batalha de hormônios?

Alguns argumentam que o desequilíbrio nos níveis de estrogênio e progesterona é o que produz os sintomas pré-menstruais na mulher. Eles afirmam que os hormônios normalmente trabalham juntos para haver um perfeito equilíbrio. Quando um deles é produzido em maior quantidade que o outro, ocorre uma batalha, e as baixas são deixadas no organismo da mulher.

Níveis elevados de estrogênio podem causar irritabilidade em algumas mulheres. No caso de outras, prevalece a progesterona, o que as faz sentir-se deprimidas e esgotadas.

Outros pesquisadores discordam com a teoria de que o desequilíbrio hormonal causa a SPM. Eles afirmam que fatores psicológicos e sociais influem muito em produzir os sintomas pré-menstruais em algumas mulheres. Patient Care, ao considerar as causas da SPM, afirma que “comparando-se as mulheres que sofrem de SPM grave e as demais, não foram encontradas diferenças nítidas nos padrões, taxas, quantidades ou época de ocorrência dos hormônios gonadotrópicos”.

O estresse, por exemplo, pode acelerar e retardar ou exacerbar os sintomas da SPM. O livro PMS—Premenstrual Syndrome and You: Next Month Can Be Different (Síndrome Pré-Menstrual e Você: O Próximo Mês Poderá Ser Diferente) observa: “O estresse inibe a liberação dos hormônios e um suprimento inadequado de hormônios pode levar ao tipo de desequilíbrio hormonal que piora os sintomas da SPM.” Problemas de saúde, financeiros e domésticos podem parecer mais graves e mais difíceis de lidar antes da menstruação.

O temor da estigmatização

Alguns pesquisadores argumentam que a mulher poderá ser encarada como uma funcionária não ideal e pouco habilitada para tomar decisões se manifestar sintomas relacionados com a menstruação. A psicóloga Barbara Sommer diz: “É uma maneira de a sociedade manter as mulheres no seu lugar. Se a sua competência fica comprometida uma vez por mês, isto significa que você não devia se meter a realizar essas coisas influentes, importantes e de peso.”

Outros pesquisadores argumentam que as mulheres aceitaram a SPM porque ela permite que elas usem esse estado como desculpa para o seu comportamento. Numa entrevista concedida à revista Redbook, a Dra. Carol Tavris, autora do livro The Mismeasure of Woman, afirma que a SPM “permite às mulheres dizer: ‘O que há de errado com a minha saúde?’, em vez de: ‘O que há de errado na minha vida que me faz sentir tão infeliz?’”

Em 1985, mulheres psiquiatras na Comissão sobre as Mulheres da APA (Associação Americana de Psiquiatria) lutaram contra a inclusão da SPM no Manual de Diagnósticos e Estatísticas da APA. Embora seja citada no apêndice do manual de 1987 como “distúrbio disfórico da fase lútea final”, um grupo de estudo da APA havia proposto alistar “distúrbio disfórico pré-menstrual” (DDPM) no texto principal de sua próxima edição. Alistá-la no manual a oficializaria como um distúrbio psiquiátrico.

“Não dá para encaixá-la no livro, porque não é um distúrbio mental”, observa a Dra. Paula Kaplan, anterior conselheira do grupo de estudo. Ela diz: “A próxima vez que uma mulher for nomeada procuradora-geral, vão lhe perguntar: ‘Você já teve DDPM?’”.

Uma busca de alívio

A classe médica continua a debater a SPM. Surgem muitas teorias para determinar exatamente a causa e o tratamento da SPM. Alguns médicos dizem que pode haver 18 variedades de SPM, cada uma produzindo sintomas diferentes. Segundo um estudo recente, o zinco pode desencadear os sintomas da SPM. Outro estudo sugeriu que a deficiência de vitamina B6 pode ser a causa do problema, provocando depressão branda em algumas mulheres.

Tratamentos tais como terapias de luz, privação do sono, técnica de relaxamento profundo, antidepressivos e supositórios de progesterona são usados por mulheres que procuram alívio de sintomas recorrentes de SPM. Até hoje, não se encontrou nenhum tratamento eficaz.

As mulheres que sofrem de sintomas que estão além de seu controle na fase pré-menstrual farão bem em consultar um médico. Cada caso é um caso, e cada mulher merece um diagnóstico abalizado e assistência adequada. E em razão de a SPM ser muito semelhante a outros quadros clínicos graves, tais como doenças da tireóide, endometriose e depressão, é importante fazer um exame clínico.

Recomenda-se que antes de ir consultar o médico, a mulher mantenha um diário detalhado ou uma tabela dos sintomas físicos e emocionais que ela sente antes da menstruação. Saber de antemão os dias que estará mais propensa a alterações de humor, irritabilidade ou depressão poderá ajudá-la a ajustar a sua programação concordemente. Pode até ajudá-la a determinar se sofre de SPM.

Os médicos podem sugerir reduzir os fatores causadores de estresse. Uma alimentação nutritiva e exercícios regulares também podem auxiliar a combater a SPM. Segundo um estudo feito numa universidade, uma dieta rica em carboidratos e pobre em proteínas melhorou o estado de ânimo de algumas mulheres deprimidas na fase pré-menstrual. Exercícios físicos regulares ou uma caminhada rápida durante o dia também podem ajudar a combater a fadiga e as crises de desânimo.

Naturalmente, os membros da família, principalmente o marido, podem cooperar, sendo especialmente bondosos, atenciosos e compreensivos quando ela passa por momentos difíceis por causa do seu ciclo mensal.

O debate continua


De acordo com alguns, não é correto rotular de “síndrome” as mudanças emocionais e físicas normais pelos quais a mulher passa durante o seu ciclo menstrual. E outros recusam-se a dar crédito à SPM, alegando que estigmatiza a mulher.

No entanto, para muitas mulheres, a SPM é um fato. Todos os meses, elas têm sintomas que lhes tornam difícil lidar com a família e o emprego. Uma busca de alívio e compreensão pode levar à frustração, ao passo que muitos da classe médica e também leigos continuam a questionar a realidade da SPM.

Fonte da matéria: Despertai

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